segunda-feira, 27 de julho de 2009

Curta sobe degrau no futuro do cinema português

Imprimido em 28-07-2009 0:25:21Jornal Labor Versão original em:http://www.labor.pt/index.asp?idEdicao=191&id=9618&idSeccao=2017&Action=noticia
SECÇÃO:
Cultura

A Curta – Mostra Nacional de Curtas-metragens de S. João da madeira, “subiu mais um degrau” na segunda edição que terminou este fim-de-semana. É a convicção da presidente da associação que organiza a mostra, Salomé Pinto. A responsável pela Teia dos Sentidos referia-se ao aumento de atenção e apoio dados pela autarquia à iniciativa. Salomé Pinto referiu ainda que a Curta 2 apresentou pela primeira vez filmes e realizadores convidados, bem como alguns workshops.Na sessão de abertura, o vereador da Cultura de S. João da Madeira, afirmou que a mostra de curtas foi “o primeiro passo na afirmação que a cidade pretende fazer no campo da criatividade”. Rui Costa enalteceu o trabalho da Teia dos Sentidos, destacando o trabalho “apreciável” que tem desenvolvido, na medida em que conjuga diferentes artes e não se confina ao território de S. João da Madeira. O vereador referiu ainda os projectos da Casa das Artes e da Criatividade e da Oliva, convidando os presentes, nomeadamente os realizadores, a participar em outros projectos sanjoanenses.Em termos de público, “a participação não foi ainda a que gostaríamos”, disse ao labor a presidente da Teia dos Sentidos. Contudo, Salomé Pinto salientou que os espectadores da primeira edição se mantiveram fiéis, regressando este fim-de-semana ao auditório dos Paços da Cultura. A presidente da Teia dos Sentidos está confiante que, para o ano, a terceira edição da Curta terá mais público ainda. Este ano, entre 16 e 18 de Julho, assistiu às curtas uma média de 54 pessoas por dia.Nesta edição, a Teia dos Sentidos inovou também na escolha da melhor curta. No ano passado foi seleccionado apenas um filme, mas este ano foi indicada a melhor curta de cada dia. “É mais justo assim por causa do número de pessoas” que assistem às sessões, conforme disse Salomé Pinto ao labor. No primeiro dia do certame a curta mais votada foi “A um passo de ser”. O público distinguiu ainda “A Ascensorista”, no segundo di,a e “Deus não quis”, no último dia. Esta última curta conta a história de uma qualquer Laurindinha que viu o seu amor partir para a guerra. Mas Deus não quis que ele voltasse a tempo de arranjar mulher, quis antes que ele voltasse numa cadeira de rodas, revoltado com o mundo e a noiva.Em data a definir, as curtas mais votadas pelo público serão exibidas de novo, nos Paços da Cultura. Salomé Pinto adiantou ao labor que “há a possibilidade de projectar ‘Rasganço’ com as melhores curtas”. O filme de Raquel Freire, a realizadora que encerrou o certame, foi exibido no sábado à tarde, não tendo conseguido atrair muito público.A Curta 2 começou, na quinta-feira, 16, com a exibição do filme “Azeitona” e a presença do realizador Humberto Rocha, aluno do Mestrado em Cinema-Realização da Universidade da Beira Interior. Esteve também presente o realizador da curta vencedora do ano passado “Acesso Reservado”, Gonçalo Ribeiro. Os dois realizadores partilharam com o público diferentes experiências e vivências.O último dia da Curta 2 ficou marcado pela realização de três ateliês de pinhole, cianotipia e iniciação ao guionismo, em que participaram cerca de duas dezenas de pessoas. Durante a tarde foi exibido o filme “Rasganço” e à noite a realizadora juntou-se ao público para assistir às curtas e conversar. “Há mais futuro para o cinema português”Raquel Freire, que iniciou o percurso o cinema com uma curta-metragem, veio a S. João da Madeira aplaudir a iniciativa da Teia dos Sentidos, referindo que “a democratização dos meios é maravilhosa”. A realizadora que ficou famosa com “Rasganço”, uma visão muito própria de uma tradição académica de Coimbra, contou aos presentes o seu percurso pelo meio do cinema. Começou como assistente de realização, foi montadora de som e imagem e só depois chegou à realização e à produção. Apesar das dificuldades do caminho, Raquel Freire acredita que “é possível viver do cinema em Portugal”, mesmo que essa vida não seja fácil e com o dinheiro sempre contado.A realizadora congratulou-se com a Curta 2 por achar que esta aproxima o cinema das pessoas e pode influenciar a criação de públicos. “O cinema é uma síntese de várias coisas, imagem, música e escrita. É uma coisa muito completa e fica-se a saber de muita coisa”, disse. Raquel Freire espera que a projecção digital de filme, baixando os custos de exibição, embarateça o produto final ao consumidor. Assim, seria mais fácil consumir cinema português, que a realizadora definiu como “sistema quase artesanal” contra a industrialização de sistemas produtivos como o americano, o indiano ou nigeriano. A realizadora chamou a atenção para a necessidade de investimento privado na cultura. “As cidades que têm mais vida são as que têm dinâmica cultural porque este é um investimento que rende mesmo em tempo de crise”.Além de investimento privado, o cinema português precisa de público, algo que não preocupa Raquel Freire. “Os públicos educam-se. Os miúdos que fizeram estas curtas (em exibição na Custa 2) quando tiverem 18 anos vão juntar tostões para ir ao cinema”, disse. Levar a sétima arte às escolas e a sítios públicos também pode ajudar neste “momento de expansão”. A realizadora acredita que “há mais futuro para o cinema português”. E espera que esse futuro esteja para breve já que considera o cinema como “uma associação de ideias, um treino intelectual brutal”.Questionada pelo público presente, Raquel Freire não se mostrou preocupada com a pirataria na internet. “A partir do momento em que faço um filme é para as pessoas verem. Podem copiar à vontade”, afirmou. A cineasta, que não está inscrita na Sociedade Portuguesa de Autores, afirmou que, “hoje em dia faz-se mais dinheiro a vender pipocas; os filmes pagam-se mais com as vendas às televisões do que com a exibição”. Assim, apesar de considerar o cinema como um trabalho do qual quer viver, Raquel Freire está mais inclinada em espalhar a mensagem da sua forma de expressão.De momento a realizadora prepara-se para ir dar aulas para as Caldas da Rainha, no próximo ano lectivo e está a escrever um livro. “Se não tivesse escrito dez ou 11 argumentos não me teria atirado a escrever”, garante.c/ ASC


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